ALÉM DA NOSSA GALÁXIA,PODEM EXISTIR TRILHÕES DE MUNDOS HABITÁVEIS - EXISTEM MAIS DE UM TRILHÃO DE EXOPLANETAS,UMA GALAXIA COM 40 BILHÕES DE TERRAS
Além da nossa galáxia, podem existir trilhões de mundos habitáveis.
Um novo estudo, publicado em 2 de fevereiro no The Astrophysical Journal Letters, dá a primeira evidência de que mais de um trilhão de exoplanetas poderiam existir além da Via Láctea. Usando informações do Observatório Chandra de raios-X da NASA e uma técnica de detecção de planeta chamada microlente, para estudar uma galáxia quasar distante, cientistas da Universidade de Oklahoma encontraram evidências de que existem aproximadamente 2.000 planetas extragalácticos para todas as estrelas além da Via Láctea. As galáxias de Quasar são objetos distantes, alimentados por buracos negros, um bilhão de vezes mais gigantes do que o nosso Sol.
“Podemos estimar que o número de planetas nesta galáxia distante é mais do que um trilhão”, diz Xinyu Dai, o professor de astronomia e astrofísica que liderou o estudo.
Alguns desses exoplanetas são pequenas exo-luas, enquanto outros são como grandes gigantes de gás como Júpiter. Ao contrário da Terra, a maioria dos exoplanetas são objetos deslocados, não estreitamente ligados às estrelas, vagando pelo espaço, ou vagamente orbitando entre as estrelas.
A metodologia de Microlente funciona como uma ampliação, diz o co-autor Eduardo Guerras. É um processo cheio de nuances que analisa as frequências emitidas por objetos celestiais que se movem, para observar como eles distorcem e ampliam a luz que vem dos objetos próximos deles. Esta luz então ilumina coisas que de outra forma não são visíveis…
..Já que esses objetos estão tão distantes – os corpos extragalácticos estão a cerca de 3,8 bilhões de anos-luz de distância – o método de microlente é a única maneira de se ter uma idéia de sua forma. Os pesquisadores sabem que estão olhando para planetas por causa da velocidade em que estão se movendo.
“Você pode ter esse efeito com estrelas, mas seria muito, muito menos provável. Seria muito menos frequente”, diz Guerras. “Se você tem apenas um planeta, as chances de observá-lo duas vezes são astronomicamente pequenas. Essas estrelas estão muito distantes. Não há como você observá-las por qualquer meio [tradicional]”, diz Guerras.
“Esperamos que outras equipes publiquem análises independentes para confirmar nossas descobertas”, diz Dai. “Acho que este é um caso em que as descobertas científicas podem ser desencadeadas pela centelha das ideias”.
Fonte:https://ronymetafisico.blogspot.com.br/2018/02/alem-da-nossa-galaxia-podem-existir.html
Exoplanetas do tamanho da Terra poderão ser fotografados em breve
Astrônomo da Universidade de Michigan explica como telescópios cada vez maiores nos permitirão tirar fotos de planetas cada vez menores ao redor de outras estrelas — e, quem sabe, achar uma segunda Terra ou mesmo vida alienígena
Fotografar um planeta ao redor de uma estrela distante é como tentar enxergar um vagalume voando ao redor de um holofote. “É impossível de se fazer logo de cara, mas se você usar imagens digitais, um dispositivo para bloquear a luz da estrela e algoritmos sofisticados, consegue achar o vagalume”, explica Michael Meyer, professor de Astronomia da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
Nos últimos três anos, Meyer colaborou com o estudo SHINE, que culminou na descoberta do mais recente exoplaneta detectado por imageamento direto — método que consiste em tirar fotos de mundos a trilhões e trilhões de quilômetros da Terra.
Usando o instrumento SPHERE acoplado ao Very Large Telescope (VLT), operado no Chile pelo observatório ESO, uma equipe internacional de astrônomos descobriu ao redor de uma estrela a 385 anos-luz um planeta como Júpiter, só que uma vez e meia maior e pelo menos seis vezes mais massivo.
Os resultados foram publicados no início do mês no periódico Astronomy and Astrophysics e descrevem o gigante gasoso, que orbita a estrela HIP65426 a uma distância equivalente a 18 vezes a de Júpiter até o Sol. Os pesquisadores encontraram evidências da existência de nuvens e também de água na atmosfera do exoplaneta.
O processo de descoberta do HIP65426b levou um ano, até que não restasse dúvida de que era de fato um planeta, e não uma estrela distante que tenha aparecido de penetra.
Por terem meros dez ou 20 milhões de anos de vida, a estrela e seu planeta podem ser considerados novinhos em comparação ao Sol e sua trupe, que têm 4,5 bilhões de anos. É por este motivo que o Júpiter grandão ainda é muito mais quente do que o nosso vizinho, já que o calor proveniente de sua formação ainda foi pouco dissipado.
Formação que, inclusive, parece ter sido bastante caótica — a composição do exoplaneta indica que ele se formou perto da estrela-mãe, junto de um acompanhante. Mas a dinâmica orbital daquele sistema solar acabou arremessando o acompanhante para o espaço interestelar, e o gigante para bem longe da estrela.
“Faz apenas alguns anos que conseguimos analisar planetas a dezenas de unidades astronômicas [distância Terra-Sol] de suas estrelas”, disse Meyer. Isso só é possível graças à construção de telescópios cada vez maiores, cuja próxima geração (os ELTs) começará a funcionar nos próximos anos.
As duas principais técnicas para caçar mundos distantes, o trânsito planetário e a velocidade radial, são melhores para encontrar planetas mais internos — por isso são complementares ao imageamento.
“Será preciso combinar resultados de todas as técnicas para responder por completo certas questões”, disse Meyer à GALILEU. Conversamos com o professor sobre a pesquisa e as perspectivas futuras para a técnica do imageamento direto de exoplanetas.
Este planeta é pelo menos seis vezes mais massivo que Júpiter e fica 18 vezes mais distante da estrela. Além da evidência de água e nuvens, o que mais o seu time descobriu sobre suas propriedades?
Não sabemos muito mais do que isso. Temos planos de observações futuras com o telescópio espacial James Webb para obter maior qualidade no espectro infravermelho. Eles contêm assinaturas das atmosferas dos planetas que ajudam a estimar abundâncias das moléculas. Queremos medir a proporção entre elementos pesados e hidrogênio e hélio. Isso nos ajuda a entender se o corpo se formou pelo modelo de acreção do núcleo, que cremos ter originado os planetas gigantes do Sistema Solar, ou por processos similares aos que formam estrelas binárias. Se os planetas têm mais elementos pesados do que a estrela (como Júpiter), argumentamos que se formaram perto dela e foram ejetados.
Não sabemos muito mais do que isso. Temos planos de observações futuras com o telescópio espacial James Webb para obter maior qualidade no espectro infravermelho. Eles contêm assinaturas das atmosferas dos planetas que ajudam a estimar abundâncias das moléculas. Queremos medir a proporção entre elementos pesados e hidrogênio e hélio. Isso nos ajuda a entender se o corpo se formou pelo modelo de acreção do núcleo, que cremos ter originado os planetas gigantes do Sistema Solar, ou por processos similares aos que formam estrelas binárias. Se os planetas têm mais elementos pesados do que a estrela (como Júpiter), argumentamos que se formaram perto dela e foram ejetados.
Como exatamente a descoberta deste novo planeta contribui para expandir o conhecimento sobre a formação de planetas e a evolução de sistemas planetários?
Temos só um punhado de sistemas imageados diretamente como este, ainda há muito o que aprender sobre o que é exceção e o que é comum. Outras técnicas são melhores em achar planetas próximos da estrela. Para um entendimento completo, temos de conhecer a frequência dos planetas em função do tamanho, massa, composição e raio orbital. Quão comuns são sistemas com um planeta como a Terra na mesma separação entre a Terra e o Sol? Quão comuns são sistemas com um planeta como Júpiter à mesma distância de cinco vezes a da Terra ao Sol? Quão comuns são sistemas com ambos padrões? Será preciso combinar resultados de todas as técnicas para responder por completo essas questões.
Temos só um punhado de sistemas imageados diretamente como este, ainda há muito o que aprender sobre o que é exceção e o que é comum. Outras técnicas são melhores em achar planetas próximos da estrela. Para um entendimento completo, temos de conhecer a frequência dos planetas em função do tamanho, massa, composição e raio orbital. Quão comuns são sistemas com um planeta como a Terra na mesma separação entre a Terra e o Sol? Quão comuns são sistemas com um planeta como Júpiter à mesma distância de cinco vezes a da Terra ao Sol? Quão comuns são sistemas com ambos padrões? Será preciso combinar resultados de todas as técnicas para responder por completo essas questões.
A detecção foi feita através de imageamento direto, mas a principal técnica disponível hoje continua sendo os trânsitos planetários. Quais são os prós e contras de cada uma?
Trânsitos são melhores em detectar planetas orbitando mais internamente, por isso a probabilidade da sombra passar em frente à estrela é maior. Imageamento direto é complementar em estudar planetas a separações muito grandes. Se juntamos resultados de todas as técnicas, o todo de nosso entendimento fica maior do que a soma das partes.
Trânsitos são melhores em detectar planetas orbitando mais internamente, por isso a probabilidade da sombra passar em frente à estrela é maior. Imageamento direto é complementar em estudar planetas a separações muito grandes. Se juntamos resultados de todas as técnicas, o todo de nosso entendimento fica maior do que a soma das partes.
O que podemos esperar para o futuro do imageamento direto de exoplanetas quando a próxima geração de telescópios extremamente grandes (ELTs, na sigla em inglês) estiverem operando a todo vapor?
Tem sido difícil imagear diretamente porque gigantes gasosos grandes em separações grandes (além da órbita de Netuno e Urano) são raros. A próxima geração de ELTs (o European Extremely Large Telescope, o Giant Magellan Telescope e o Thirty Meter Telescope) nos permitirão alcançar nas estrelas mais próximas a faixa de três vezes a separação Terra-Sol.Também poderemos imagear os mesmos planetas descobertos através da velocidade radial ou outros métodos e cruzar resultados. Por isso, os ELTs devem revolucionar a nossa compreensão sobre a formação e evolução de sistemas planetários.
Tem sido difícil imagear diretamente porque gigantes gasosos grandes em separações grandes (além da órbita de Netuno e Urano) são raros. A próxima geração de ELTs (o European Extremely Large Telescope, o Giant Magellan Telescope e o Thirty Meter Telescope) nos permitirão alcançar nas estrelas mais próximas a faixa de três vezes a separação Terra-Sol.Também poderemos imagear os mesmos planetas descobertos através da velocidade radial ou outros métodos e cruzar resultados. Por isso, os ELTs devem revolucionar a nossa compreensão sobre a formação e evolução de sistemas planetários.
Esse método vai nos permitir buscar sinais de vida em planetas distantes?
Seremos até mesmo capazes de detectar planetas com o tamanho da Terra em emissão infravermelha térmica ao redor das dezenas de estrelas mais próximas. E, se conseguirmos resolução suficiente, obteremos as distribuições de energia desses planetas, assim como os espectros. Se pudermos detectar esses mesmos planetas tanto na luz estelar refletida quanto na emissão térmica, poderemos estudar se exibem sinais de efeito estufa, o que seria uma revolução para entender o clima em outros mundos. É possível que possamos até mesmo procurar por sinais de desequilíbrio químico. E então os cientistas debaterão se a evidência pode ser interpretada como sinal de vida em planetas distantes.
Seremos até mesmo capazes de detectar planetas com o tamanho da Terra em emissão infravermelha térmica ao redor das dezenas de estrelas mais próximas. E, se conseguirmos resolução suficiente, obteremos as distribuições de energia desses planetas, assim como os espectros. Se pudermos detectar esses mesmos planetas tanto na luz estelar refletida quanto na emissão térmica, poderemos estudar se exibem sinais de efeito estufa, o que seria uma revolução para entender o clima em outros mundos. É possível que possamos até mesmo procurar por sinais de desequilíbrio químico. E então os cientistas debaterão se a evidência pode ser interpretada como sinal de vida em planetas distantes.
Fonte:https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Espaco/noticia/2017/07/exoplanetas-do-tamanho-da-terra-poderao-ser-fotografados-em-breve.html
Uma galáxia com 40 bilhões de Terras
Para cientistas, o Kepler-186f foi apenas o primeiro planeta parecido com a Terra a ser descoberto na Via Láctea. O avanço da ciência espacial sugere que a pergunta que há milênios nos intriga — estamos sozinhos no universo? — tem resposta: Não.
Na Via Láctea não há apenas uma Terra. Há 40 bilhões delas. O Kepler-186f, planeta fora do Sistema Solar muito semelhante ao nosso, descoberto no último dia 17, provavelmente será conhecido como o primeiro dessa espécie. Em um futuro próximo, contudo, muitos planetas assim, parecidos com a Terra, serão revelados pelos astrônomos.
Com dimensões muito próximas às do mundo onde vivemos, o Kepler-186f deve ser rochoso e composto também de ferro, água e gelo, segundo cientistas. Isso significa que sua atmosfera também deve ser parecida com a nossa. Ele orbita a zona habitável de uma estrela anã – ou seja, uma faixa nem muito próxima e nem muito distante de sua fonte de calor e luminosidade, o que faz com que suas temperaturas não sejam extremas. Essa é uma das características que mais empolgou a comunidade científica: o planeta tem grandes chances de ter água na forma líquida, uma das condições fundamentais para a existência de vida sobre sua crosta.
“Essa descoberta mostra que realmente existem planetas do tamanho do nosso em zonas habitáveis”, afirma a astrofísica Elisa Quintana, principal pesquisadora da Nasa responsável pela revelação do Kepler-186f. “Estamos percebendo que há muitos como ele e, por isso, as chances de existir vida em outros planetas é muito alta.”
Até 2010 ainda não havia confirmações de que outros lugares no espaço poderiam reunir as mínimas condições propícias à vida – água na forma líquida, energia e algum dos seis elementos fundamentais para a existência (carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo e enxofre). No entanto, com o lançamento de missões como a Kepler, há cinco anos, e o avanço de telescópios capazes de visualizar e enxergar não só partes longínquas do cosmo, mas também pequenos planetas (do tamanho da Terra ou menores que ela), os cientistas estão percebendo que, sim, há bilhões de planetas que exibem as mesmas características do nosso. E deles, o Kepler-186f é o mais semelhante à Terra até agora. Então por que, entre inúmeras possibilidades, seríamos os únicos privilegiados com a vida?
Para a Nasa, vida é oficialmente definida como “um sistema químico auto-sustentado, capaz de sofrer evolução Darwiniana”. Não significa dizer que há animais ou civilizações como as criadas pelo homem em planetas afastados. Mesmo organismos muito simples, como vírus ou colônias de bactérias, significam vida para a Nasa e para as quase 150 missões em todo o mundo que buscam planetas fora do Sistema Solar. Em conjunto, eles tentam responder à questão que inquieta astrônomos desde a Antiguidade: estamos sozinhos no universo? Ainda não chegou a confirmação categórica de que existe vida fora da Terra. Mas o conjunto de evidências, que agora ganhou reforço com a existência do Kepler-186f, indica que a resposta está cada vez mais próxima. E talvez a pergunta a ser respondida nos próximos anos seja outra: que tipo de vida nos cerca?
A descoberta de mundos – A divulgação do novo planeta mereceu a atenção de todo o mundo porque era aguardada desde a metade do século XX pelos cientistas. Foi nessa época, com o lançamento de telescópios como o Hubble, que os cientistas puderam, finalmente, ter imagens nítidas do cosmo. Com elas, perceberam que vivemos em um universo muito mais rico e cheio de planetas do que antes se imaginava. As novas informações indicaram a possibilidade da existência de diversos sistemas estelares, ou seja, que outras estrelas, além do Sol, têm planetas orbitando ao seu redor. A confirmação dessa hipótese, entretanto, só veio em 1995, quando astrônomos da Universidade de Genebra, na Suíça, identificaram um planeta feito de gás, como Júpiter, em volta de uma estrela, a 51 Pegasi. Assim, faz menos de 20 anos que sabemos que outros sistemas solares, como o nosso, podem povoar o universo.
“Nossa galáxia tem cerca de 300 bilhões de estrelas e estamos rapidamente confirmando a noção de que todas têm planetas rochosos ao seu redor”, afirma o astrofísico Stephen Kane, da Universidade Estadual de São Francisco, nos Estados Unidos, coautor da pesquisa que descreveu o Kepler-186f. “Resultados da missão Kepler têm nos mostrado que, quanto menor o planeta, mais comum é sua existência. Assim, parece-nos que planetas rochosos são muito frequentes. Ainda precisamos saber quantos deles estão em zonas habitáveis, mas as primeiras estimativas já mostram que o número também deve ser incrivelmente alto.”
A última conta feita pelos cientistas, publicada em novembro de 2013 na revista Pnas, mostra que uma em cada cinco estrelas como o Sol tem pelo menos um planeta do tamanho da Terra em sua zona habitável. Isso significa que só na Via Láctea podem existir 11 bilhões de planetas como o nosso. Se na conta entrarem os planetas ao redor de estrelas anãs, o número sobre para 40 bilhões. De acordo com os autores do estudo – entre eles Geoffrey Marcy, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, um dos “caçadores de planetas” mais bem-sucedidos da astronomia moderna – o mais próximo pode estar a 12 anos-luz de distância (cada ano-luz equivale a 9,46 trilhões de quilômetros).
Ou seja, os astrônomos imaginavam que planetas como o Kepler-186f existiam aos bilhões, mas ainda não tinham visto nenhum. A cerca de 500 anos-luz do Sol, o novo planeta orbita uma estrela anã, o tipo mais comum em nossa galáxia – elas são mais de 70% das centenas de bilhões de estrelas.
“Há pelo menos um século tínhamos ideias sobre os planetas fora do sistema solar e há mais de cinquenta anos desenvolvemos o conceito de zona habitável. Ainda não contávamos, no entanto, com telescópios potentes para fazer os experimentos e ter as confirmações que precisávamos sobre eles. Agora finalmente possuímos essa tecnologia”, afirma Kane. “Nos próximos anos, muitas descobertas devem ser feitas. Só nos dados da missão Kepler há várias, aguardando para serem reveladas.”
Missões do futuro – A sonda Kepler, que forneceu os dados para a revelação do novo planeta, foi a grande alavanca para a explosão de novos planetas encontrados pelos cientistas nos últimos anos. Lançada em março 2009 pela agência espacial americana, ela tinha o objetivo principal de procurar planetas parecidos com o nosso, durante quatro anos. Seu telescópio e um sistema de imagens em alta definição são capazes de identificar mesmo planetas considerados pequenos, como a Terra. Em relação ao Hubble, a Kepler tem duas vantagens: capta mais estrelas em detalhes e faz imagens mais nítidas por possuir um filtro que diminui as interferências luminosas e detecta diferentes cores.
Até agora, a maior parte dos planetas revelados por ela tem um tamanho intermediário entre a Terra e Netuno, quatro vezes maior que a Terra. A análise das informações dos três primeiros anos da missão já identificou 3 845 possíveis candidatos a planetas. Desses, 962 foram confirmados.
Como outras missões de busca, a Kepler tem mais facilidade em identificar grandes planetas. Eles são mais visíveis e facilmente monitorados pelos telescópios em regiões longínquas do cosmo. Por isso, grande parte das descobertas são de super-Terras, planetas mais pesados e maiores que Terra, ou gigantes gasosos, bolas de gás como Júpiter, planeta de hidrogênio com massa equivalente à de 317 terras. Lugares assim, no entanto, exibem condições menos propícias à vida – os gigantes gasosos costumam ter uma atmosfera maciça, causando uma grande pressão que praticamente inviabiliza a existência de seres complexos, enquanto as super-Terras têm menor probabilidade de reunir as condições atmosféricas necessárias para garantir a presença de vida.
Por isso, programas espaciais em todo o mundo investem maciçamente em telescópios potentes, capazes de captar planetas menores. Dados e imagens ainda mais precisos que os da missão Kepler – que encerrou a primeira fase de seu programa em 2013 e, no início da segunda fase, chamada K2, teve um problema com o sistema que “mira” o telescópio, mas continua em atividade – virão de programas como aquele que será lançado pela Nasa em 2017, com uma nova geração de telescópios. Nessa data, irá para o espaço o Transiting Exoplanet Survey Satellite (Tess) e o telescópio James Webb, substituto do Hubble. O Tess vai monitorar planetas ao redor de estrelas anãs, enquanto o James Webb pretende examinar a atmosfera desses planetas e procurar substâncias que só poderiam ser geradas por organismos vivos, como os seis elementos essenciais à vida (carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre).
Possibilidade de vida – Quanto mais planetas são descobertos, maior é a probabilidade de achar planetas semelhantes ao nosso e, assim, os astrônomos acreditam que aumente também as chances de encontrar vida em outros lugares do universo. A definição de vida, porém, é algo complexo, que está longe de ser consenso entre os cientistas. O estudo da vida terráquea – o único tipo conhecido até hoje – mostrou que, apesar da grande biodiversidade terrestre, todos os seres são similares: são feitos de células ou, como os vírus, dependem delas; usam ácidos nucleicos como o DNA para armazenar e transmitir informação genética; e possuem um metabolismo similar.
Mas não é impossível a existência de outros tipos de vida espalhados pelo universo. Afinal, mesmo a Terra guarda muitos organismos que ainda são enigmas para os cientistas. Em 2010, pesquisadores da Nasa encontraram uma bactéria em um lago da Califórnia, nos Estados Unidos, que se comporta como um ser extraterrestre: não usava nenhum dos seis elementos fundamentais à existência, mas sobrevivia a partir de arsênio, um elemento altamente tóxico.
“Sabemos que para surgir vida é necessária uma complexidade química mínima, ou seja, moléculas orgânicas e razoavelmente complexas, formadas a partir de elementos básicos. Mas sua origem pode exigir algumas condições especiais. Ainda estamos aprendendo como todos esses elementos se juntam para formar um sistema químico autossustentado, capaz de se reproduzir e evoluir”, explica Douglas Galante, pesquisador do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas, e do Núcleo de Pesquisa em Astrobiologia da Universidade de São Paulo (USP).
Por isso, os cientistas ainda procuram corpos vivos no espaço de uma maneira “Terrocêntrica”, buscando as condições que proporcionaram o surgimento dos seres por aqui: presença de água líquida ou moléculas orgânicas complexas.
“Mesmo a vida que conhecemos tem uma flexibilidade imensa a diferentes situações. Não é impossível imaginar um universo com muitos planetas, alguns mais quentes, outros frios, porém todos com organismos capazes de lidar com essas condições. Talvez em muitos desses planetas que estamos descobrindo as condições sejam extremas demais para atingir a multicelularidade, ou chegar a uma civilização tecnológica como a nossa. Mas, ainda assim, isso mostraria que a Terra não é privilegiada em ter vida”, afirma o cientista.
Um cosmo próspero? – Quando se fala da existência de seres animados no espaço, normalmente os cientistas imaginam formas microscópicas, como as primeiras que provavelmente habitaram a Terra em sua origem.
“Se houver vida, como ela funciona? Podemos estar próximo a um momento de descobrir sistemas vivos completamente novos, novas biosferas para conhecer e explorar. É quase como se estivéssemos no papel do naturalista inglês Charles Darwin, em 1800, a bordo do navio Beagle explorando novas terras e toda a sua riqueza”, diz Galante.
Para a maior parte dos astrônomos envolvidos com a busca de planetas fora do Sistema Solar, é muito improvável que, em um universo tão cheio de constelações, planetas e sistemas estelares com condições próximas a nossa, a Terra seja o único lugar a ter desenvolvido organismos vivos. “Sabemos agora que planetas semelhantes à Terra são comuns na Via Láctea. Para nosso planeta ser o único com vida na galáxia, isso significa que a vida é algo incrivelmente raro – uma ocorrência em 40 bilhões. Mas, mesmo que a probabilidade seja apenas de 1 em 1 milhão de possibilidades, isso já significaria muita vida só nessa galáxia”, afirma o astrofísico Erik Petigura, pesquisador da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.
Se essas hipóteses forem confirmadas nos próximos anos pelos cientistas, esses alienígenas, que podem estar na iminência de serem encontrados, causariam uma grande revolução científica, semelhante à provocada pelo astrônomo Nicolau Copérnico, quando ele formulou, no século XVI, a teoria de que o Sol é o centro do Sistema Solar. Teríamos de aprender que somos apenas mais um planeta – e minúsculo – cercado de bilhões de outros com seres diferentes.
“Uma descoberta como essa teria impactos profundos. Até o momento, o conhecimento que temos parte da hipótese de que a Terra é o único lugar do cosmo onde a vida apareceu e evoluiu. Se for provado que a vida é uma consequência natural da formação de planetas nas zonas habitáveis, assim como foi provado que a formação de planetas é uma consequência natural da formação de estrelas, então isso significa que o universo é, literalmente, fértil em vida”, diz o astrofísico Stephen Kane. “O único desafio que permanecerá depois disso será descobrir como atravessar as vastas distância que nos separam desses outros seres.”
Comentários
Postar um comentário