"TIRARAM MEUS OLHOS,MAS NÃO MEU ESPÍRITO",DIZ ATLETA CEGO POR TERRORISMO


    • Brad Snyder, atleta paraolímpico americano que perdeu a visão com uma bomba
  • Brad Snyder, atleta paraolímpico americano que perdeu a visão com uma bomba

"Tiraram meus olhos, mas não meu espírito", diz atleta cego por terrorismo

José Ricardo Leite
Do UOL, em Baltimore (EUA)* 

Brad Snyder, 32 anos, é daqueles que poderiam ter se enfiado em uma tristeza profunda. Um acontecimento trágico na vida o limitou de muitas das atividades que adorava fazer. Foi vítima de uma cena de guerra e ficou cego após uma bomba explodir em direção a seus olhos. Reclamar e sofrer? Que nada. O americano pode ter perdido a visão dos olhos, mas jamais deixará de ter o olhar das coisas boas da vida. Valoriza muito mais as vitórias, como as que pretende repetir na Paraolimpíada do Rio-2016.

Ele é formado em arquitetura de engenharia naval e tem a patente de tenente da marinha americana, sendo especialista em desarmar bombas e explosivos. Foi convocado para prestar serviços militares no Afeganistão, área de recorrentes atos terroristas em que os americanos tentam controlar. Um dia, em 2011, Brad foi tentar salvar um companheiro afegão numa área com minas colocadas pelos terroristas. Mas não conseguiu detectar uma delas, que acabou explodindo sobre seus olhos.

O militar ficou 100% cego e com estragos em sua face, que precisou de cirurgias plásticas para reconstrução. Anda sempre acompanhado por um guia. Ele reconta como foi a cena. Mas, no final, claro, prefere ressaltar as coisas positivas do desfecho ao invés de disparar rancor. Gesticula em tom de orgulho, e não de raiva.


Brad Snyder foto

Brad Snyder, atleta paraolímpico americano que perdeu a visão com uma bomba Harry How/Getty Images

"Foi muito assustador. No Afeganistão, os EUA trabalhavam com soldados afegãos, dois estavam machucados no chão, tentei ajudar e pisei numa bomba, e ela estourou. O cenário no Afeganistão é assustador, caótico e louco porque bombas estão em todo lugar, meu trabalho era localizá-las com detector de metal, mas eu falhei em achar essa. Mas sou grato que meu time me ajudou quando estava ferido. Eles conseguirem me recuperar, o serviço médico foi muito competente. Tinha muitas cicatrizes feias na minha cara, mas a cirurgia foi muito boa", recordou, em entrevista ao UOL 

Esporte.

"Absolutamente (é uma pessoa que vê o lado positivo). Eu acredito que vemos o mundo como queremos ver, se você quer olhar pelo lado bom, é isso que verá. Mas se quiser ver pelo lado ruim, ficará com visões apenas negativas e verá isso. Eu sou do tipo que prefere olhar pelo lado bom das situações", prosseguiu.

O americano era capitão de um time da natação da marinha antes do acidente, e sempre teve no esporte uma grande paixão. Usou as piscinas como apoio para se recuperar. Em menos de um ano, obteve índice para disputar os Jogos Paraolímpicos de Londres. Conquistou duas medalhas de ouro e uma de prata em categorias de nado livre para cego. E resolveu usar seu exemplo como inspiração para pessoas que reclamam da vida.


"Não podia acreditar, mas aconteceu aquilo (acidente) comigo. Mas depois foi incrível pra mim e para minha família o fato de virar atleta. Eu certamente tento ser um exemplo. Muitos de nós enfrentamos desafios e adversidade no dia a dia. Espero que o que eu faço na piscina mostre pras pessoas que elas devem abraçar um objetivo e crescer interiormente no dia a dia. Ter um espírito melhor. É isso que devo fazer, ser uma fonte de inspiração", falou.

"É muito difícil quando se tem lesão como essa. Eu era acostumado a uma pessoa saudável e fazer coisas difíceis. Eu era forte, podia pular de avião, explodir coisas, atirar. Agora não posso ver, tudo é mais difícil. Me sinto muito pequeno. Mas quando tive a oportunidade de ter sucesso na natação, venci provas, e isso me fez sentir bem me reconstruir. Me fez sentir bem. Quando vou à comunidade e as pessoas dizem que sou uma inspiração me sinto muito melhor e feliz. Eu quero continuar com isso."

Para não dizer que tudo foi só lado positivo, Brad admite que uma situação o deixava bem irritado após perder a visão. "Não gostava quando ia lavar louça e as quebrava", brincou.

Brad nadará as seletivas americanos em junho para os Jogos Paraolímpicos de 2016. Já colocou como meta que quer três medalhas de ouro e aproveitar a atmosfera positiva do país. Medo do Zika vírus? Que nada. Brad é um cara de visão positiva, não se esqueça. E salienta que nem terroristas conseguiram o vencer por meio de bombas.
"Não me preocupo (com zika). Acho que a mídia está fazendo alarde com uma coisa pequena. O Brasil fará um grande trabalho no evento, será bom. Zika não será problema", cravou. "O terrorismo não me bateu. Se você aceita ser vítima e fica triste e derrotado, aí eles (terroristas) venceram. Eles podem ter tirado meus olhos, mas nunca vão tirar o meu espírito", finalizou.

*O jornalista viajou a convite da Under Armour


Fonte:http://olimpiadas.uol.com.br/noticias/2016/03/15/tiraram-meus-olhos-mas-nao-meu-espirito-diz-atleta-cego-em-terrorismo.htm

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